O crente não se envolve com o governo: Pois é perverso e demoníaco! Ou dedica-se somente a evangelização, e não a política!
Iniciamos postagens sobre temas ligado a cidadania terrena do crente, entendendo que deve se dá a César o que é de César (obrigações civis) e a Deus o que é de Deus (compromisso religioso).
O envolvimento do cristão na política, e esta será a parte 3 de Por que os cristãos [assembleianos] devem influenciar positivamente o governo?
Com base no texto de Grudem (2014; 2016) vamos fazer algumas considerações sobre o envolvimento do cristão e a política. Com a provocação de seis itens:
- O governo deve impor a religião? [Parte 1]
- O governo deve excluir a religião? [Parte 2]
- Todo governo é perverso e demoníaco! [Parte 3]
- Dedique-se à evangelização e não à política! [Parte 3]
- Dedique-se à política e não à evangelização!
- Influência cristã expressiva no governo.
Nossa discussão será sobre:
Já percebeu como ocorre na internet postagem demonizando os governos e governantes! Coisas como o Político Fulana é satanista! Ou é Maçom (como se este fosse satanista), Ou fez pacto com o demônio. Ou simplesmente, diz, todo político é "desgraçado, não presta, raça corrupta, todos devem sofrer/morrer"! Um discurso de ódio bem claro.
Já vi coisas como "Devemos jogar uma bomba em Brasília!" ou "Deve-se tratar mal quem nos trata mal" (supostamente uma personalidade política pertencente a um partido político que no momento é vinculado a corrupção). Ou, não me envolvo com política, pois é tudo ladrão.
Eventos recentes tem contribuído para descrença na política e nos políticos, tais como Corrupção da Petrobras, Petrolão, Mensalão e outros "ão".
O que está por trás de um pensamento tão negativo e repulsivo sobre a Política?
Podemos abordar algumas coisas do nosso contexto histórico:
- O Brasil foi colonia de exploração, logo a referência das autoridades sob a liderança da metrópole portuguesa foi de exploração, roubo e sofrimento imposto;
- Após a independência, no Brasil império, muitos desses vícios estavam presentes, e não ocorriam a participação da população, em que na época a maior parte da população era rural, analfabeta e de predominância nas atividades econômicas baseada na escravidão e outras formas senhorios imposto;
- Na república, ainda tivemos formas aristocráticas de governo (governo oligárquico, ou de pequenos grupos econômicos), como ranço do império;
- O desenvolvimento histórico de um povo dominado, sem o desenvolvimento cultural a partir do letramento e da participação social política, e me parece que influenciou para um afastamento e incapacitação da massa na vida política;
- A partir do século XX, em especial, depois de Getúlio Vargas, com o voto masculino, e depois o feminino, a progressiva oportunidade de educação pública e avanços de conquistas sociais o povo se viu incluído na vida pública, em um contexto de convergência internacional (contudo, numa relação paternalista do governo, mediado pela ditadura de Getúlio);
- Temos depois golpes, e deposições de governantes, em que somente cinco presidentes de vinte e cinco finalizam seus mandatos, sendo que a última (Ex-Presidenta Dilma) passou pelo impeachment.
- Logo, nossa cultura política está em construção e desenvolvimento, pois não tivemos nem cinquenta anos da redemocratização desde o golpe civilmilitar de 60.
Em especial, na igreja, nós os pentecostais assembleianos, crescemos historicamente desde 1900 entre a camada mais humilde de brasileiros, no qual sempre foi segregado da participação política pelo limite da educação, poucas posses e das posições sociais que não propiciavam a inclusão da voz nas disputas políticas (Souza, 2005). Então, nos apegamos na oração, santificação e poder de Deus! E muitas das vezes independentes de ajuda ou atenção políticas superamos as adversidades.
Contudo, hoje a os crentes (evangélicos) devem participar da vida política por muitas já declaradas nas postagens anteriores, mas também somos mais 22% da população brasileira, e que podemos ter voz sobre os temas que temos atenção para serem representados nas câmaras municipais, assembleias legislativas estaduais e no congresso nacional. Tanto nos poderes executivo, legislativo e judiciário, assim fazer valer os seus direitos e deveres, para melhorar sua educação, participação e representação para seus valores e bandeiras bíblicas a serem defendidas.
Não há mais razões para manter um ostracismos autoimposto na vida pública, somos sal e luz. Então, vamos aos argumentos:
1. Ideia equivocada: Todo governo é perverso e demoníaco
Alguns fundamental tal opinião em Lucas 4.6:
O sofisma é que todo governo é dirigido por demônio e por Satanás.Tal base na sua própria afirmação na tentação de Jesus, no início do seu ministério, em que uma das tentações ele promete os reinos do mundo se Jesus o adorasse.
Um livro que utiliza essa argumentação e influenciou muitos americanos foi The myth of a Christian nation (O mito da nação cristã) de Greg Boyd (Grudem, 2014). Em que Boyd diz que todo governo é demoníaco, o diabo usa os governantes (seus servos), e na prática Satanás é o presidente em exercício de todos os governos da terra.
Grudem armenta os equívocos dessas argumentações:
- Satanás é o pai da mentira, não se deve acreditar no que ele fala (Jo 8.44);
- Jesus na tentação não estava preocupado em refutar a cada palavra de Satanás, mas de resistir, e usou a Palavra de Deus para isso: "Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele cultuarás (Lc 4.8);
- O Senhor domina sobre todos governos, e somente Ele estabelece e retira: [...] o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até o mais humilde dos homens constitui sobre eles (Dn 4.17);
- O Senhor constitui a autoridade para cuidar dos que fazem bem e punir os que fazem mal: Romanos 13:1 Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas.
2 Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos.
3 Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá.
4 Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal.
5 Portanto, é necessário que sejamos submissos às autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de consciência.
6 É por isso também que vocês pagam imposto, pois as autoridades estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a esse trabalho. - O Senhor ordena honrar e pagar o que é devido: 1 Pe 2.14.
Como com tantos versos de ensinamento para apoiar que Deus domina, escolhe e executa Sua vontade por meio de homens presidindo governos! Será que vamos dá mais crédito a Satanás (pai da mentira)?
2. Outra ideia equivocada: Dedique-se à evangelização e não à política
Há quem defenda que o chamado do salvo é somente pregar o evangelho, pois foi á única forma de influenciar, pois se é chamado para mudar corações, e não a sociedade. Logo, dedique a evangelização e não a política. Pois, neste raciocínio, a igreja só prega o evangelho e não fala sobre a política (Grudem, 2016).
Sobre está forma de pensamento, podemos perceber é simplista e superficial em relação a grande comissão de Jesus (Mc 16.15).
Podemos destacar os seguintes argumentos: a) o crente é chamado para as boas obras; b) a boa influência no governo é uma forma de amar o próximo; c) prática o que Deus ordena O glorifica; d) governos bons e ruins fazem diferença no labor de ganhar vidas; e) historicamente, muitos cristãos influenciaram positivamente governos.
a) o crente é chamado para as boas obras
A Bíblia revela que todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm 3.20). Assim, ninguém por mérito próprio é salvo diante de Deus. Por isso somos salvo pela graça, observe:
Logo após acrescenta (v. 10):
Efetivamente a Bíblia nos direciona as boas obras, e não só a pregação: I. Bem a todos, em especial a família da fé (Gl 6.10); II. Resplandeça vossa luz [...] vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai, no céu (Mt 5.16).
As boas obras são realizado especialmente na visão pública em ações sociais, logo se articula com atividades políticas (partidária ou não partidária) com a motivação de glorificarem ao Pai, no céu. Por exemplo, ações em presídios, hospitais, escolas, sem-tetos, empresas, bairros, favelas, e em várias áreas necessitadas.
b) a boa influência no governo é uma forma de amar o próximo
Jesus diz em Mt 22.39 "amaras ao teu próximo como a ti mesmo". Implica em dá condições materiais, legais e sociais para se viva com o mais próximo da desigualdade e com boas leis. Tais como a Bíblia ensinar em proteger o órfão, a viuvá, o necessitado, o estrangeiro. O não estimulo das condições de prostituição e pornografia infanto-juvenil, o trabalho escravo ou análogo, o respeito e o ensino moral com decência. Em outras palavras, empenha-se para ter um bom governo e uma boa legislação.
c) prática o que Deus ordena O glorifica
Alguns alegam que levar a convicção bíblica ao governo não trará bem espiritual algum. Contudo, em 1 Jo 5.3 diz "Por que o amor de Deus está nisso: em guardar os seus mandamento". Logo, isso é expressar amor ao governo e suas ações. Lembrar que quando a lei é boa, as pessoas confiam: "[As outras nações] ouvirão todas estes estatutos e dirão: Esta grande nação é realmente um povo sábio e inteligente" (Dt 4.6).
d) governos bons e ruins fazem diferença no labor de ganhar vidas
Os governos podem respeitar o principio de liberdade religiosa nos direitos humanos, ou não. Em especial isso é observável a diferença que faz no caso da Coreá.
A Coreá possui a mesma língua, passado cultural e familiar. Mas foi separada por regimes políticos diferentes. Ao norte é comunista, ateia e proíbe a pregação do evangelho. Ao sul é democrático liberal, laico com liberdade religiosa. A sul possui a maior Igreja Assembleia de Deus do mundo, somando milhares de pessoas nas células e nos cultos por dia. E no norte sem liberdade, a igreja escondida nos lares e no subterrâneo se reúne, morrem e são presos pelo evangelho.
Conhecer e participar politicamente é relevante para manutenção e conservação de direitos dos praticantes religiosos, como liberdade ao culto, a convicção e consciência, de expressar ideias e opiniões livremente.
Percebe-se que ideologia de esquerda de origem marxista, com argumentos de igualdade, entram em países evangelizados (cristãos e/ou islâmicos) e se instalam e depois destroem a base de valores e cultura com distorções legais e sociais, muitos levantam regimes totalitários. Esses não se instalam por exemplos na interiorização da Índia e países de religião e filosofia de deidade impessoal, não prosperam (Koyzis, 2014).
e) historicamente, muitos cristãos influenciaram positivamente governos
Cristãos engajados nos governos de seus países trouxeram benéficos e avanços para o seu povo (Alvin Schmidt apud Grudem, 2016): a) a proibição do infanticídio e aborto do império romano (374 d.C.); b) fim dos combates com gladiadores até a morte nas arenas romanas (404); c) direito a propriedade e proteção as mulheres; d) banimento da poligamia; e) a proibição de queimar viúvas vivas na Índia (1829); f) proibição da deformação dos pés de jovens mulheres na China (1912); persuasão para criação do sistema escolar público na Alemanha (Século XVI) e ensino obrigatório na Europa; e entre tantos outros exemplos de influência positiva.
Na contemporaneidade pode-se lembra pela direitos civis de igualdade entre negros e brancos nos EUA pelo pastor batista Martin Luther King Jr. Com preço de desobediência civil e depois com sua vida defendeu a liberdade como dom de Deus para todo ser humano, e o pecado da discriminalização racial, e conseguiu.
Como podemos só evangelizar e não ter impacto de mudança de vidas, atitudes e por fim do pecado do povo e da sociedade? Se não envolver será um evangelho insipido, sem força e poder para salvar.
Por fim, há o último argumento que diz respeito sobre o fim dos tempos, logo haverá perseguição? Jesus não está voltando, logo? Por que gastar energia e tempo para salvar o máximo possível?
Primeiramente, a passagem da grande tribulação e do anticristo (Mt 24 e 2 Tm 3) fala de uma realidade espiritual temporal sem data (ninguém sabe a hora, Mt 24.36). Sabemos que Cristo está voltando, mas enquanto volta, nós trabalhamos servindo com boas obras (Ef 2.10), fazendo todo o propósito de Deus (At 20.27), amando o próximo como a nós mesmo (Mt 22.39). Logo, devemos influenciar o máximo possível para ter e dá boas condições ao nosso próximo.
Por segundo, se não houvesse avançados e buscado influenciar e sermos sal e luz do mundo as conquistas sociais supramencionadas teriam sido alcançadas? Pessoas teriam sido salvas somente com palavras e reuniões? Como diz Tiago, não amemos só por palavras mais de fato!
Por terceiro, não se gasta energia impropriamente, pois sem lideranças políticas que apoiem o evangelho, a elaboração de boas leis e o bom caráter e o trato correto na coisa pública, estaríamos vivendo numa sociedade totalmente corrupta nos compromissos e numa crise de confiança, talvez em guerras. Lembre que a Igreja tem diversidades de dons (1 Co 12.4), e esses dons são para manter o corpo de Cristo (v.12), e para isso a saúde, a educação, a segurança e o bem-estar da cidade, da nação são essenciais. Entendo que os ensinamento bíblicos são aplicáveis a sociedade atual! Não só na vida privada, mas numa cosmovisão que leva ao público o evangelho vivo, como um leão com força, quando vivido em sinceridade e santidade.
Bibliografia
Koyzis, D. T. Visões & ilusões políticas: uma análise e crítica cristã das ideologias contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2014.
Grudem, W. Política segundo a Bíblia: princípios que todo cristão deve conhecer. São Paulo: Nova Vida, 2014.
Souza, B. A. História da Igreja-Mãe das Assembleias de Deus no Brasil. Belém: Edição Comemorativa, 2005.
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