sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Por que os cristãos [assembleianos] devem influenciar positivamente o governo? [Parte 3]

O crente não se envolve com o governo: 

Pois é perverso e demoníaco! Ou dedica-se somente a evangelização, e não a política!

Iniciamos postagens sobre temas ligado a cidadania terrena do crente, entendendo que deve se dá a César o que é de César (obrigações civis) e a Deus o que é de Deus (compromisso religioso).

O envolvimento do cristão na política, e esta será a parte 3 de Por que os cristãos [assembleianos] devem influenciar positivamente o governo?

Com base no texto de Grudem (2014; 2016) vamos fazer algumas considerações sobre o envolvimento do cristão e a política. Com a provocação de seis itens:
Nossa discussão será sobre:



Já percebeu como ocorre na internet postagem demonizando os governos e governantes! Coisas como o Político Fulana é satanista! Ou é Maçom (como se este fosse satanista), Ou fez pacto com o demônio. Ou simplesmente, diz, todo político é "desgraçado, não presta, raça corrupta, todos devem sofrer/morrer"! Um discurso de ódio bem claro.



Já vi coisas como "Devemos jogar uma bomba em Brasília!" ou "Deve-se tratar mal quem nos trata mal" (supostamente uma personalidade política pertencente a um partido político que no momento é vinculado a corrupção). Ou, não me envolvo com política, pois é tudo ladrão. 

Eventos recentes tem contribuído para descrença na política e nos políticos, tais como Corrupção da Petrobras, Petrolão, Mensalão e outros "ão".



O que está por trás de um pensamento tão negativo e repulsivo sobre a Política? 

Podemos abordar algumas coisas do nosso contexto histórico:
  • O Brasil foi colonia de exploração, logo a referência das autoridades sob a liderança da metrópole portuguesa foi de exploração, roubo e sofrimento imposto;
  • Após a independência, no Brasil império, muitos desses vícios estavam presentes, e não ocorriam a participação da população, em que na época a maior parte da população era rural, analfabeta e de predominância nas atividades econômicas baseada na escravidão e outras formas senhorios imposto;
  • Na república, ainda tivemos formas aristocráticas de governo (governo oligárquico, ou de pequenos grupos econômicos), como ranço do império;
  • O desenvolvimento histórico de um povo dominado, sem o desenvolvimento cultural a partir do letramento e da participação social política, e me parece que influenciou para um afastamento e incapacitação da massa na vida política;
  • A partir do século XX, em especial, depois de Getúlio Vargas, com o voto masculino, e depois o feminino, a progressiva oportunidade de educação pública e avanços de conquistas sociais o povo se viu incluído na vida pública, em um contexto de convergência internacional (contudo, numa relação paternalista do governo, mediado pela ditadura de Getúlio);
  • Temos depois golpes, e deposições de governantes, em que somente cinco presidentes de vinte e cinco finalizam seus mandatos, sendo que a última (Ex-Presidenta Dilma) passou pelo impeachment.
  • Logo, nossa cultura política está em construção e desenvolvimento, pois não tivemos nem cinquenta anos da redemocratização desde o golpe civilmilitar de 60.
Em especial, na igreja, nós os pentecostais assembleianos, crescemos historicamente desde 1900 entre a camada mais humilde de brasileiros, no qual sempre foi segregado da participação política pelo limite da educação, poucas posses e das posições sociais que não propiciavam a inclusão da voz nas disputas políticas (Souza, 2005). Então, nos apegamos na oração, santificação e poder de Deus! E muitas das vezes independentes de ajuda ou atenção políticas superamos as adversidades.



Contudo, hoje a os crentes (evangélicos) devem participar da vida política por muitas já declaradas nas postagens anteriores, mas também somos mais 22% da população brasileira, e que podemos ter voz sobre os temas que temos atenção para serem representados nas câmaras municipais, assembleias legislativas estaduais e no congresso nacional. Tanto nos poderes executivo, legislativo e judiciário, assim fazer valer os seus direitos e deveres, para melhorar sua educação, participação e representação para seus valores e bandeiras bíblicas a serem defendidas.

Não há mais razões para manter um ostracismos autoimposto na vida pública, somos sal e luz. Então, vamos aos argumentos:


1. Ideia equivocada: Todo governo é perverso e demoníaco


Alguns fundamental tal opinião em Lucas 4.6:

E lhe disse: Eu te darei toda a autoridade sobre eles e todo o seu esplendor, porque me foram dados e posso dá-los a quem eu quiser.

O sofisma é que todo governo é dirigido por demônio e por Satanás.Tal base na sua própria afirmação na tentação de Jesus, no início do seu ministério, em que uma das tentações ele promete os reinos do mundo se Jesus o adorasse.

Um livro que utiliza essa argumentação e influenciou muitos americanos foi The myth of a Christian nation (O mito da nação cristã) de Greg Boyd (Grudem, 2014). Em que Boyd diz que todo governo é demoníaco, o diabo usa os governantes (seus servos), e na prática Satanás é o presidente em exercício de todos os governos da terra.

Grudem armenta os equívocos dessas argumentações:  
  1. Satanás é o pai da mentira, não se deve acreditar no que ele fala (Jo 8.44);
  2. Jesus na tentação não estava preocupado em refutar a cada palavra de Satanás, mas de resistir, e usou a Palavra de Deus para isso: "Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele cultuarás (Lc 4.8);
  3. O Senhor domina sobre todos governos, e somente Ele estabelece e retira: [...] o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até o mais humilde dos homens constitui sobre eles (Dn 4.17);
  4. O Senhor constitui a autoridade para cuidar dos que fazem bem e punir os que fazem mal: Romanos 13:1 Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas.
    2 Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos.
    3 Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá.
    4 Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal.
    5 Portanto, é necessário que sejamos submissos às autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de consciência.
    6 É por isso também que vocês pagam imposto, pois as autoridades estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a esse trabalho.
  5. O Senhor ordena honrar e pagar o que é devido: 1 Pe 2.14.
Como com tantos versos de ensinamento para apoiar que Deus domina, escolhe e executa Sua vontade por meio de homens presidindo governos! Será que vamos dá mais crédito a Satanás (pai da mentira)?

2. Outra ideia equivocada: Dedique-se à evangelização e não à política


Há quem defenda que o chamado do salvo é somente pregar o evangelho, pois foi á única forma de influenciar, pois se é chamado para mudar corações, e não a sociedade. Logo, dedique a evangelização e não a política. Pois, neste raciocínio, a igreja só prega o evangelho e não fala sobre a política (Grudem, 2016).

Sobre está forma de pensamento, podemos perceber é simplista e superficial em relação a grande comissão de Jesus (Mc 16.15).

Podemos destacar os seguintes argumentos: a) o crente é chamado para as boas obras; b) a boa influência no governo é uma forma de amar o próximo; c) prática o que Deus ordena O glorifica; d) governos bons e ruins fazem diferença no labor de ganhar vidas; e) historicamente, muitos cristãos influenciaram positivamente governos.

a) o crente é chamado para as boas obras

A Bíblia revela que todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm 3.20). Assim, ninguém por mérito próprio é salvo diante de Deus. Por isso somos salvo pela graça, observe:

Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Efésios 2:8,9

Logo após acrescenta (v. 10):

Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.

Efetivamente a Bíblia nos direciona as boas obras, e não só a pregação: I. Bem a todos, em especial a família da fé (Gl 6.10); II. Resplandeça vossa luz [...] vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai, no céu (Mt 5.16).

As boas obras são realizado especialmente na visão pública em ações sociais, logo se articula com atividades políticas (partidária ou não partidária) com a motivação de glorificarem ao Pai, no céu. Por exemplo, ações em presídios, hospitais, escolas, sem-tetos, empresas, bairros, favelas, e em várias áreas necessitadas.

 b) a boa influência no governo é uma forma de amar o próximo

Jesus diz em Mt 22.39 "amaras ao teu próximo como a ti mesmo". Implica em dá condições materiais, legais e sociais para se viva com o mais próximo da desigualdade e com boas leis. Tais como a Bíblia ensinar em proteger o órfão, a viuvá, o necessitado, o estrangeiro. O não estimulo das condições de prostituição e pornografia infanto-juvenil, o trabalho escravo ou análogo, o respeito e o ensino moral com decência. Em outras palavras, empenha-se para ter um bom governo e uma boa legislação.

c) prática o que Deus ordena O glorifica

Alguns alegam que levar a convicção bíblica ao governo não trará bem espiritual algum. Contudo, em 1 Jo 5.3 diz "Por que o amor de Deus está nisso: em guardar os seus mandamento". Logo, isso é expressar amor ao governo e suas ações. Lembrar que quando a lei é boa, as pessoas confiam: "[As outras nações] ouvirão todas estes estatutos e dirão: Esta grande nação é realmente um povo sábio e inteligente" (Dt 4.6).

d) governos bons e ruins fazem diferença no labor de ganhar vidas

Os governos podem respeitar o principio de liberdade religiosa nos direitos humanos, ou não. Em especial isso é observável a diferença que faz no caso da Coreá.

A Coreá possui a mesma língua, passado cultural e familiar. Mas foi separada por regimes políticos diferentes. Ao norte é comunista, ateia e proíbe a pregação do evangelho. Ao sul é democrático liberal, laico com liberdade religiosa. A sul possui a maior Igreja Assembleia de Deus do mundo, somando milhares de pessoas nas células e nos cultos por dia. E no norte sem liberdade, a igreja escondida nos lares e no subterrâneo se reúne, morrem e são presos pelo evangelho.

Conhecer e participar politicamente é relevante para manutenção e conservação de direitos dos praticantes religiosos, como liberdade ao culto, a convicção e consciência, de expressar ideias e opiniões livremente.

Percebe-se que ideologia de esquerda de origem marxista, com argumentos de igualdade, entram em países evangelizados (cristãos e/ou islâmicos) e se instalam e depois destroem a base de valores e cultura com distorções legais e sociais, muitos levantam regimes totalitários. Esses não se instalam por exemplos na interiorização da Índia e países de religião e filosofia de deidade impessoal, não prosperam (Koyzis, 2014).

e) historicamente, muitos cristãos influenciaram positivamente governos

Cristãos engajados nos governos de seus países trouxeram benéficos e avanços para o seu povo (Alvin Schmidt apud Grudem, 2016): a) a proibição do infanticídio e aborto do império romano (374 d.C.); b) fim dos combates com gladiadores até a morte nas arenas romanas (404); c) direito a propriedade e proteção as mulheres; d) banimento da poligamia; e) a proibição de queimar viúvas vivas na Índia (1829); f) proibição da deformação dos pés de jovens mulheres na China (1912); persuasão para criação do sistema escolar público na Alemanha (Século XVI) e ensino obrigatório na Europa; e entre tantos outros exemplos de influência positiva.

Na contemporaneidade pode-se lembra pela direitos civis de igualdade entre negros e brancos nos EUA pelo pastor batista Martin Luther King Jr. Com preço de desobediência civil e depois com sua vida defendeu a liberdade como dom de Deus para todo ser humano, e o pecado da discriminalização racial, e conseguiu.



Como podemos só evangelizar e não ter impacto de mudança de vidas, atitudes e por fim do pecado do povo e da sociedade? Se não envolver será um evangelho insipido, sem força e poder para salvar.

Por fim, há o último argumento que diz respeito sobre o fim dos tempos, logo haverá perseguição? Jesus não está voltando, logo? Por que gastar energia e tempo para salvar o máximo possível?

Primeiramente, a passagem da grande tribulação e do anticristo (Mt 24 e 2 Tm 3) fala de uma realidade espiritual temporal sem data (ninguém sabe a hora, Mt 24.36). Sabemos que Cristo está voltando, mas enquanto volta, nós trabalhamos servindo  com boas obras (Ef 2.10), fazendo todo o propósito de Deus (At 20.27), amando o próximo como a nós mesmo (Mt 22.39). Logo, devemos influenciar o máximo possível para ter e dá boas condições ao nosso próximo.

Por segundo, se não houvesse avançados e buscado influenciar e sermos sal e luz do mundo as conquistas sociais supramencionadas teriam sido alcançadas? Pessoas teriam sido salvas somente com palavras e reuniões? Como diz Tiago, não amemos só por palavras mais de fato!

Por terceiro, não se gasta energia impropriamente, pois sem lideranças políticas que apoiem o evangelho, a elaboração de boas leis e o bom caráter e o trato correto na coisa pública, estaríamos vivendo numa sociedade totalmente corrupta nos compromissos e numa crise de confiança, talvez em guerras. Lembre que a Igreja tem diversidades de dons (1 Co 12.4), e esses dons são para manter o corpo de Cristo (v.12), e para isso a saúde, a educação, a segurança e o bem-estar da cidade, da nação são essenciais. Entendo que os ensinamento bíblicos são aplicáveis a sociedade atual! Não só na vida privada, mas numa cosmovisão que leva ao público o evangelho vivo, como um leão com força, quando vivido em sinceridade e santidade.

Bibliografia

Koyzis, D. T. Visões & ilusões políticas: uma análise e crítica cristã das ideologias contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2014.

Grudem, W. Por que os cristãos devem influenciar positivamente o governo. Grudem, W. & Asmus, B. Economia e política na cosmovisão cristão: contribuições para uma teologia evangélica. São Paulo: Nova Vida, 2016. p. 15-48.

Grudem, W. Política segundo a Bíblia: princípios que todo cristão deve conhecer. São Paulo: Nova Vida, 2014.

2 comentários:

  1. Excelente publicação, parabéns Pastor Saulo Seiffert, que Deus continue te abençoando, amém!

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    1. Obrigado Pr. Wilson. Essas postagem são dedicada ao público assembleiano. Espero que abençoe para amadurecer nossa discussão sobre política e religião do ponto de vista pentecostal em dialogo com autores reformados.

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