sábado, 9 de junho de 2018

O assembleiano participa das atividades culturais (mundana)? (Parte 2)

E continua ...


Vemos que a referência é olhar para Deus, Sua vontade e Seus ensinamento para interagir e criar cultura; e, ter muito cuidado com a autorreferência (pensar que Deus só reage ao crente, um Deus autorreferente, a imagem egocêntrica do crente faz um Deus limitado).




Tomando esse cuidado, ou buscando pelo menos. O nosso ponto de partida a questão da cultura e o cristão vamos ter algumas considerações:

  • Quando falamos do cristão contra a cultura, e quando se desclassifica todas as práticas culturais fora da sua instituição, ocorre que o cristão se posiciona "mais puro" e em posição de destaque, e mais elevado dos que estão "impuros" pela cultura. Nos parece um procedimento "arrogante", pois o Senhor Jesus nos ensina simplesmente que quem se mantem em pé, que ore para que não caia (sujeito as mesmas paixões); ou mais, diz também que o senhor não é maior que o servo, pelo contrário, se ensina a limpar os pés dos outros (igualdade); e, o Ap. Paulo informa que somos salvos pela graça, e não vem da capacidade própria, pelo contrário, é dom de Deus (não há mérito próprio). Logo, muitas construções culturais por mais que possua sua face pecaminosa, não somos nós de natureza totalmente a versa, pois se dizermos que não temos pecado, O fazemos (fala de Jesus) mentiroso (1 Jo 1.10). Não é a moralidade que faz os produtos e práticas culturais de cristãos melhores, ou mais puros, ou mais santos. Mas nos parece que tem mais a haver a uma dedicação do coração em fazer para a glória de Deus. E quando se fala de glória, não temos parâmetros assertivos que não seja os frutos.
  • O cristão na cultura na sua ideia de tornar a Cristo o melhor da sociedade, poderá distorcer a mensagem (autentica) de Jesus quando diz que veio trazer a espada e não a paz em casa. Deus não negocia sua glória e nem adoração. Logo, há valores e práticas que entraram em conflito no mundo. É inevitável.
  • O cristão acima da cultura é um posicionamento com tendência de institucionalizar o relacionamento divino, e por fim confundir o aspecto institucional da igreja com o aspecto de ser o corpo de Cristo (místico/espiritual) (Koyziz, 2009). Foi o próprio Cristo que diz que se a nossa justiça (relacionamento baseado no amor) não exceder a justiça dos fariseus e saduceus (religiosos que possuem práticas aguerridas por obrigação religiosa) não se entraria no Reino dos Céus. Religião não é relacionamento com Deus, mas uma forma de organizar e estruturar como grupo social organizado, enquanto instituição, mas o nosso relacionamento com Deus e com o próximo não se pode fugir do aspecto do mistério (Cl 1.26; Ef 5.32).
  • o cristão e a cultura em paradoxo é uma situação infelizmente paralisante, pois não tomam os princípios que possa unificar as situações culturais e cristãs (necessariamente), mas se analisa no prisma ora da ira, ora da misericórdia, e a tendência conservadora tomará conta. É tímido e inautêntico para o amor, fica-se sempre em cima do muro pela dúvida.
  • o cristão como agente transformador da cultura faz parecer que os cristãos transformadores vão vencer o pecado na cultura e redimi-la (atributo só dado a Deus). Contudo, é aconselhável ponderar sobre o que está escrito em Apocalipse, o mundo vai ruir, a Babilônia vai cair. E Jesus declarou que não somos desse mundo, e por isso que Ele intercedeu por nós para nos livrar do mal. A transformação social é utópica ao cristão orientado biblicamente, contudo estimula a levantar sua a voz contra a injustiça e o pecado.
Nesse sentido devemos mudar o nosso foco de analisar a cultura. Quando maior for a instituição, mais diferenciada e mais integrada ao mundo criado por meio da abertura cultural será necessária para poder atuar no mundo. Logo, acredito que não há receita para nós. Contudo, vivemos numa nuvem cinzenta entre cultura e ação cristã em que Pimentel (2012) cita Mark Driscoll e, DeYoung (2012) sugere o envolvimento cristão baseado nos três “Rs” (Receber, Rejeitar e Redimir). Não fará análise macro, somente análise micro, ou circunstancial. Vejamos:
Receber: Há coisas na cultura que fazem parte da graça comum de Deus a todas as pessoas, as quais um cristão pode simplesmente receber. É por isso que, por exemplo, estou digitando em um Mac (Computador) e vou postar neste blog na internet sem ter que procurar um computador ou um formato de comunicação expressamente cristã.
Rejeitar: Há coisas na cultura que são pecaminosas e não benéficas. Um exemplo é a pornografia, que não tem valor redentor e deve ser rejeitada por um cristão.
Redimir: Há coisas na cultura que não são ruins em si mesmas, mas podem ser usadas de uma forma pecaminosa e, portanto, precisam ser redimidas pelo povo de Deus. Um exemplo que teve grande repercussão na mídia é o prazer sexual. Deus fez nossos corpos para, entre outros fins, o prazer sexual. E, embora muitos tenham pecado sexualmente, como cristãos, devemos resgatar este grande dom e todas as suas alegrias, no contexto do casamento.”
No caso específico de guerra cultural pela verdade, no sentido de buscarem desconstruir a visão cristã, ou necessitar tratar com paciência para uma missão cultural em amor, sugere-se três posições (PIMENTEL, 2012; DEYOUNG, 2012):
1. Sem Retirada: Diante de controvérsia e oposição, é sempre tentador recuar para fronteiras mais amistosas. Mas trabalhar pelo bem comum é parte de amar nosso próximo como a nós mesmos. O impulso pietista de simplesmente concentrar-se em ganhar os corações e as mentes não considera suficientemente o papel das instituições e a importância de dar voz à verdade na arena pública. Muito pelo contrário, o progressivo impulso de ficar calado por medo de invalidarmos nosso testemunho é uma estratégia equivocada de vencer o mundo deixando-o vencer. Ou isso ou uma tentativa insincera de esconder o fato de que eles já não possuem quaisquer padrões éticos.
2. Sem Retrocesso: Não importa a pressão, nós nunca devemos nos desviar da palavra de Deus para agradar os poderes do mundo (Romanos 12:1-2). Esse princípio não determina automaticamente o curso de ação em cada esfera, pois a política deve às vezes ser a arte de ceder. Mas, quanto aos nossos compromissos doutrinários, nossa pregação de púlpito e nossos valores comuns, nós não devemos ceder um centímetro sequer se aquele centímetro nos afasta da verdade da Escritura (João 10:35). Aquele que se casa com o espírito desta era torna-se um viúvo na próxima. A igreja não é construída sobre novidades teológicas, e as almas não são ganhas por ambiguidade sofisticada. Todo aquele que se envergonha de Cristo e suas palavras nesta geração adúltera e perversa, o Filho do Homem também se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos (Marcos 8:38).
3. Sem Revidar: Se isto é uma batalha, então os seguidores de Cristo devem ser um tipo diferente de exército. Mesmo quando nossas emoções estouram, nossa compaixão deve se aprofundar. Não há espaço para triunfalismo, cinismo e disputas para ver quem faz mais pontos. Devemos ser guerreiros alegres e esperançosos. Quando injuriados, não devemos injuriar ou ameaçar em troca, mas confiar-nos àquele que julga retamente (1 Pedro 2:23). Não devemos nos surpreender com o sofrimento (1 Pedro 4:12). Não devemos odiar quando somos odiados (Mateus 5:43-44). E quando descansarmos em paz à noite, que não seja porque todos os homens nos louvam ou porque a cultura reflete nossos valores, mas porque nossa consciência está limpa (1 Pedro 3:16). Na luta contra os principados e potestades, não devemos nunca nos afastar, nunca ceder, nunca desistir do amor.
Desta forma, ao pensar sobre santidade, também pensamos em ação na cultura no qual pode refletir para glória de Deus, ou para manutenção cultural. Talvez essa reflexão possa fazer pensar sobre o porquê que há tantos evangélicos e não há uma transformação na sociedade brasileira? Lógico que não é uma resposta simplista apontando aqui as posições do cristão e a cultura, pois há considerações de contexto local e nacional, condições, educação, organização eclesiástica e influência da cultura em que está imergido.
Gosto muito da metáfora que diz que a tradição (aqui como cultura) é um aquário no qual o peixe não percebe que não está no mar. Da mesma forma, creio eu, que por está na cultura ocidental (ou numa tradição de congregação) não percebemos da liberdade de imaginar uma vida liberta e abundante em Cristo para viver no local onde Deus nos chamou, ou enviará.


Que música cantar, que festa ir, qual site visitar, ou qual atividade cultural participar? É um tema digno de ser discutido na sua congregação tendo como princípio que a glória de Deus não se limita ao usos e costumes locais (de décadas passadas só por adotar), e que são mutáveis ao decorrer do tempo. Mais que tudo deve ser feito com ordem e decência.



Obras Citadas
Alves. L. M. (2016). Niebuhr: Cristo e Cultura. Fonte: Ensaios e Notas: https://ensaiosenotas.com/2016/05/27/niebuhr-cristo-e-cultura/

DeYoung, K. (2012). The Three R's of Christian Engagement in the Culture War. Fonte: The Gospel Coalition (TGC): https://www.thegospelcoalition.org/blogs/kevin-deyoung/the-three-rs-of-christian-engagement-in-the-culture-war/

Ferreira, F. (2013). Franklin Ferreira - O Cristão e a Cultura. Fonte: Voltemos ao Evangelho: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2013/02/franklin-ferreira-o-cristao-e-a-cultura/

Koyzis D. (2009). Cristo, Cultura e Carson. Disponível em: tuporem.org.br/cristo-cultura-e-carson/

Morin, E. (2009). Cultura de Massas no século XX: Neurose. Rio de Janeiro: Forense Universitária.

Niebuhr, H. (1967). Cristo e Cultura. ((Série encontro e diálogos Volume 3). Tradução de Jovelino P. Ramos., Ed.) Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra.

Padilla, C. R. (2014). Missão Integral: o reino de Deus e a igreja. Viçosa: Editora Ultimato.

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