sábado, 23 de junho de 2018

A justiça social e o pensamento cristão pentecostal




Faço aqui algumas interpretações pessoais. Apesar do título. Acredito que muitos pentecostais, especialmente as primeiras gerações, são de origem de pessoas humildes financeiramente, escolarmente e socialmente. Neste sentido, quando receberam Jesus como seu Senhor e Salvador foram ainda mais excluídos com a convicção de viver para outro governo e governante, o Reino dos Céus e ao Rei Jesus Cristo.





Hoje, urge a desigualdade de renda, recursos materiais e acesso social em várias oportunidades, tais como: vagas em curso de ensino superior (graduação ou pós-graduação), educação, comércio, empresas, indústrias, ambientes sociais dado a alta cultura. Não só vale isso, muitas pesquisas revelam que ricos têm se tornado mais ricos e pobres mais pobres.

Um quadro social que a cultura-mundo desenvolve a passos largos a idolatria do hipercapitalismo (com seus supercapitalistas que são mais ricos que países), hipertecnologia (traz entretenimento mundial e unifica a nossa cultura e economia de massa), hiperindividualismo (estamos muitos individualistas, hedonistas e distantes das arenas públicas) e hiperconsumismo (a felicidade ligada às compras, bens e julgamos o valor espiritual e de missão de vida pelo consumo para preencher o vazio existencial) (LIPOVETSKY; SERROY, 2011). Sendo que podemos viver na igreja de forma hipócrita, louvando a Deus, mais sendo adorador do dinheiro, viciado nas tecnologias (celular, por exemplo), egoísta-hedonista no seu estilo de vida e, consumista (seu parâmetro de medida é o que tem, e precisa sempre ter mais). É duro, mais é a realidade em muitas congregações. “Muita aparência, muita sede por Deus, mas pouca vida com Deus”.

 


Muitas pautas mais antigas são levantada na égide da justiça social: preconceito a cor e raça (racismo), discriminação feminina (misoginia), ao estrangeiro (xenofobia), a dominação ao corpo de outro (escravidão e prostituição forçada). Outras pautas são mais recente: aborto pelo direito ao próprio corpo feminino (feminismo da terceira onda), LGBT (Lésbicas, Gay, Bissexuais, Travestis, Transsexuais) na homofobia (violência física) ou recentemente a “lgbtfobia”. 



Inicialmente, ao cristão ortodoxo, em especial pentecostal, que crer na Bíblia como norma de fé e obras, a ideia de justiça está relacionada a retribuição, ou dá o que é devido, adequação, restituição. Na doutrina da Salvação está estritamente relacionada a doutrina da Justificação. Pois no AT a lei de Moisés (Torá) informa que aquele que vive pela lei, será justificado por ela (Gálatas 3.12). Nesse sentido, a justificação de ser povo de Deus não foi por mérito ou capacidade, mas por eleição (Israel foi escolhido), e é nisso que no AT repete que a bênção, a prosperidade e a piedade é vivenciada pela graça de Deus.

É interessante como Deus usou lembrar por Isaías, Amós, Jeremias e Salmos para a negligência e o pecado contra o pobre, a viúva, o órfão e o estrangeiro - quarteto de cuidado (Deus se põe como o protetor). A justificativa é que Israel foi peregrino no Egito, oprimido e escravo (pobre), sem acolhimento e sem família (como viúva - mulher), sem protetor (como um órfão - criança/dependente) e sem terra própria e de outra cultura (estrangeiro). A lógica é como “vocês” viveram assim no Egito, não oprimam o necessitado próximo de vocês, o acolham como Eu os acolhi (salvei).






No NT semelhantemente segue a lógica do batismo do Mar Morto no AT, se morre para mundo e se vive para Deus, as vitória de Jesus é atribuída pela fé numa obra de transformação realizada pelo Espírito Santo. A justificação é porque Ele fez por nós, e recebemos pela fé a Sua obra (Efésio 2.8,9). Logo, não merecemos, mas pela graça somos transformados em glória em glória.

Nisso chama atenção no discurso de Jesus sobre as bem-aventuranças, especificamente sobre os “pobres de espírito”, pois deles é o Reino dos céus. O pobre de espírito não é pobre financeiro, social, saúde ou de talento “material”. A metáfora “pobre de espírito” é o necessitado que não tem mérito, capacidade e força de se sustentar sozinho e necessita, e se humilha, e buscar pelo seu capacitador, o Espírito Santo, a viver uma vida digna e piedoso, e por isso deles é Reino. É muito semelhante ao AT sua base de justificação.




Nesta acepção, é estranho ao cristão salvo pela graça de Deus negar e ignorar o pobre, a viúva, o órfão e o estrangeiro. Na sua volta ser incapaz de ajudar, se compadecer e doar. Por que Deus fez por ele (cristão), assim também faz por outros. Nesse sentido Tiago diz que a fé sem obras está morta.

Aqui, no sentido pessoal, a justiça é generosa, pela graça que recebi, também compartilho, pois não mereci, não tinha dignidade própria, era estrangeiro, era doente, estava preso/condenado, estava com sede/fome, estava nu… e Jesus me deu dignidade, recebi cidadania/família, fui curado/cuidado, foi liberto/redimido, fui saciado e fui coberto/protegido (Mateus 25).






Por isso, as pautas no qual sobre a cor e raça (racismo), discriminação feminina (misoginia), ao estrangeiro (xenofobia), a dominação ao corpo de outro (escravidão e prostituição forçada) são totalmente legítimas de serem apoiadas no âmbito comunitário, socialmente e nas esferas políticas. Não é necessariamente o governo que a Bíblia ordena, mas aqueles que Deus pôs próximo. Muitos esperam que o governo, líderes ou pessoas ricas o façam, mas não está escrito isso como prioridade, pois não é o governo sal e luz, mas o cristão.

Por outro lado, a Bíblia apresenta outras verdades: o mundo e tudo o que tem são de Deus (Salmos 24), a vida e toda criação foi criada como boa, contudo o pecado trouxe impacto (Gênesis 3). Mas são governadas pelas leis de Deus. Logo outras pautas na égide dos direitos humanos devem ser observadas com cuidado.

Primeiro, a ideia de igualdade a lei vem de base bíblica, pois todos foram criados debaixo das leis de Deus, e são iguais mediante a essas leis de Deus (Direito Natural). Assim, assassinar alguém que não seja por legítima defesa não está contemplado, um exemplo é o aborto por razões ideológicas e não de segurança a vida da mulher, pois o ser humano gestado é outra vida, não pertence a mulher, está na mulher.

Outro exemplo é o acolhimento a pessoas ligadas ao LGBT em práticas (secretas ou abertas). Devemos amar, ensinar e ter paciência para o crescimento e desenvolvimento da salvação, pois a imoralidade sexual é como qualquer outro pecado que exige amor. Mas obrigar a confessar essa prática como correta já extrapola o discurso bíblico, e não podemos deixar de confessar que pecado é pecado.

Neste tópico muito se ventila da construção cultural das instituições humanas e do gênero (masculino e feminino), e possui sua parcela de verdade. Mas não pode colonizar e abolir outras verdade, como a nossa estrutura biopsiquica, corpo biológico masculino é diferente do feminino, e a mentalidade ligado ao afeto (afeição e emoções) não possui base científica suficiente para fazer afirmações como tem feito em desconsiderar essa base biológica/física. Por outro lado, no âmbito democrático e cidadão é justo solicitar reconhecimento social e jurídico de patrimônio, herança e outras pauta na esfera da segurança física e econômica por serem seres humanos, com dignidade, direitos e deveres. Mas por outro lado, obrigar a ter associação com os mesmos já extrapolam outros direitos (Exemplo foi obrigar nos EUA a uma confeitaria a fazer um bolo de casamento homoafetivo judicialmente a um confeiteiro que não se prontificou por motivação de consciência religiosa, a justiça deu ganho de causa ao confeiteiro, mas nem sempre é assim).

Nestes caso acima, a questão de justiça social está demasiadamente ligado a questão da teoria do estado, civilização, teoria jurídica e de sociedade. Um reflexão interessante é feito por Carvalho (2005) usando como base o jurista Dooyeweerd e Chaplin para uma justiça social na perspectiva cristã. Contudo, acreditamos nem tudo que recebe a designação direitos humanos e justiça social possui legitimidade bíblica e capacidade de corrigir qualquer condições do mundo, pelo contrário, pode colaborar a formar outros por causar injustiças, ou seja, fazer o que diz que combate.



Para finalizar, a justiça generosa de Deus nos faz amar e cuidar daqueles que estão em fragilidade para viver uma nova vida e em Deus superar suas adversidade, mas não mantê-los dependentes, mas desenvolver a sua salvação (em todas as áreas da vida). Há outras desigualdades existentes permitidas por Deus no qual Ele chama ao arrependimento, e não permite que seja culturalmente alterado. Assim, sejamos humildes de espírito para receber de Deus a capacidade de viver amorosamente, e poder enriquecer a muitos em amor.

LIPOVETSKY, G; SERROY, J. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo: Cia das Lestras, 2011.

CARVALHO, G. V. R. PODER POLÍTICO E JUSTIÇA SOCIAL NA FILOSOFIA REFORMACIONAL DE HERMAN DOOYEWEERD. Revista Eletrônica de Ética e Cidadania, v. 1, n. 1, p. 30–51, 2005. Disponível em: <http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Graduacao/EST/Publicacoes_-_artigos/carvalho_3.pdf>. Acesso em: 24 out. 2016.

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